Para Sandra Veroneze

 

Pragmatha: Você já esteve em crise com seu ‘papel existencial: escritora’?

Francirene Gripp: Sim! Aliás, parece que este estado de crise faz parte de mim.

 

Pragmatha: Muitas pessoas têm nos livros uma companhia, uma forma de fugir da dura realidade, ou uma ferramenta para, através da imaginação, desbravar novos mundos, contornando o tédio, a rotina. Você acredita no poder terapêutico da literatura?

Francirene Gripp: Penso que fugir da dura realidade por meio dos livros, é um meio de ir ao encontro de novas realidades! Que podem ser ainda mais duras ou bem doces! Certamente, com a leitura que nos agrada, podemos fugir do tédio. Quanto a poder terapêutico propriamente dito, generalizando para outras pessoas, não saberia dizer. Para mim, é sim, uma terapia, porque me sinto sempre um pouco melhor depois de cada livro lido. Até os livros de que não gosto, têm algo para me ensinar. Eu acho…

 

Pragmatha: É possível ‘aprender a escrever’ ou na sua opinião se trata mais de um dom que nasce com o sujeito?

Francirene Gripp: Ninguém nasce sabendo escrever, aprende-se a escrever, mas parece que existe uma certa “mistura” entre as aptidões de uma pessoa e o desenvolvimento de uma escrita autoral. Estamos falando aqui da escrita como produção literária, não é? Observando a biografia de autores importantes, sempre se nota que o hábito de leitura participou intensamente do contexto de sua produção literária. Entretanto, muitos estudiosos e críticos de literatura, também são leitores contumazes e intensivos, mas não passaram a escrever poemas ou contos em consequência disso.

Creio que podemos falar, aqui, também de certas escolhas. A pessoa que deseja ser escritor, pode ter aptidões literárias e não vir a desenvolvê-las.

Pragmatha: Vivemos tempos bastante conturbados atualmente no Brasil. É boa matéria-prima para a literatura? Você acredita que o artista tenha algum papel diferenciado nesse momento?

Francirene Gripp: Tempos conturbardos são matéria-prima para discussões e muita literatura sim, mas não me parece que o artista tenha papel diferenciado nisso. Não é o que tem sido visto, atualmente, a não ser para aqueles artistas que assumiram manifestar sua opinião nos diversos meios de comunicação. Nesses momentos, já não estão agindo mais com a arte, mas com o discurso crítico de cidadãos que opinam.

 

Pragmatha: Você tem bastante contato, como professora universitária, com jovens, estudantes. Como você vê o futuro da escrita criativa no Brasil?

Francirene Gripp: Existem milhares de jovens escritores expressivos, a despeito do pouco que os jovens e os adultos, em geral, leem. O mundo digital possibilitou que o público tomasse conhecimento deles.

Isso não significa que todos os textos que estão sendo produzido, tenham valor artístico, mas indica que há uma minoria com uma grande propensão a escrever literariamente. Temos chance, assim, de que surjam no futuro, novos ótimos romancistas, contistas e poetas. Se a maioria da população começar a ler para valer, imagina que grande público exigente poderemos ter!

ENTREVISTA PARA A revista digital CADERNO LITERÁRIO da editora PRAGMATHA – Porto Alegre, 2016.

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